Retoma da atividade presencial traz esperança às agências

As agências imobiliárias voltaram a abrir portas. Os primeiros dias após a retoma da atividade presencial parecem indicar que o setor já começou a recuperação.

Autor: Redação
22 de maio de 2020
Secretárias mais afastadas, menos agentes imobiliários nos escritórios, as visitas preparadas com todos os cuidados. Os telefones voltaram a tocar e as reuniões, mesmo à distância, voltaram a fazer parte do quotidiano. A retoma da atividade presencial nas agências trouxe novos contactos e um sentimento de esperança em relação aos próximos meses. 

Em meados de março, e numa altura em que os negócios pareciam estar a correr melhor do que nunca, a Covid-19 obrigou a uma paragem abrupta no dia-a-dia dos agentes imobiliários. Em teletrabalho, impossibilitados de fazer deslocações para angariações ou visitas e confrontados com os receios dos clientes, viram o número de transações descer dramaticamente. 

Dois meses depois, as portas voltaram a estar abertas ao público e, embora sem apertos de mão e com máscaras a esconder sorrisos, há negócios que se vão fechando e alguma confiança nos próximos meses. 

Contamos como têm sido as últimas semanas em quatro agências, através dos testemunhos dos seus responsáveis.  

Salto tecnológico 

Manuel Ferreira, da ERA Fafe, salienta que, embora nunca tenha deixado de trabalhar – tudo era feito em teletrabalho e com a porta fechada –, a reabertura ao público voltou a trazer clientes ao espaço físico da agência, sobretudo a partir do dia 18 de maio.

“Temos tido bastantes contactos, novas leads e clientes interessados em comprar”, conta, considerando que “o entusiasmo de as pessoas quererem continuar a comprar imóveis se vai manter”.

O responsável pela agência minhota diz também que tem recebido “alguns compradores que chegam na perspetiva de baixar preços”, mas não acredita que tal vá acontecer: “Os construtores ainda estão a trabalhar nas encomendas que tinham e, por isso, a construção nova não vai baixar com tanta facilidade. Os imóveis usados, pela menos nesta fase, também não. Mais tarde poderá existir alguma redução de preço devido à conjuntura”. Ainda assim, mantém uma atitude positiva: “Temos de ver as coisas de uma forma otimista e eu acho que vamos conseguir ultrapassar esta situação”. 

Em relação aos condicionalismos causados pelas novas regras e recomendações da DGS, afirma não ter sentido muitas dificuldades. 

Assim, e além da utilização de máscaras na agência, fez algumas alterações no espaço: “Alterámos em termos de disposição de secretárias. Retirámos algumas, criámos outros postos com monitor virado para o cliente, em que o cliente está com um monitor e nós com outro. Espalhámos os computadores do call center mais pela sala”.

Na sua opinião, a grande mais-valia foi “o salto tecnológico” que a sua empresa, tal como muitas outras, teve de dar para responder à necessidade de comunicar à distância. “Já trabalhávamos muito com emigrantes e por isso já tínhamos algumas normas de trabalho à distância implementadas na loja. Agora é uma questão de se adaptar o que já se fazia”, explica.

Os maiores condicionamentos ocorrem nas visitas, sobretudo a imóveis habitados, o que obrigada a que, além do álcool gel e da máscara, tenham de ser usados também protetores de calçado e luvas.  

“Há um conjunto de condições que temos de cumprir e que os nossos comerciais estão a cumprir escrupulosamente”, sublinha, lembrando, por exemplo, que já não existe partilha de viaturas entre agentes imobiliários e clientes.  

“Uma das grandes barreiras é o aperto de mão, mas esse aperto de mão, esse sorriso tem de ser feito de outra forma”, reconhece. “Felizmente as coisas estão a correr bem dentro dos condicionalismos e estão bem encaminhadas”, conclui.  

Negócio a animar no Porto

Miguel Portela, da Casa da Portela, no Porto, diz que o negócio “está a animar, ou seja, foi bom abrir a loja”. 

Nas duas últimas semanas a agência voltou a ter atendimento presencial e os resultados já se notam: “Temos pessoas a contactar para o número geral do escritório e já tivemos pessoas que se deslocaram aqui. Não estamos ao ritmo de março, nem nada que se pareça, mas pelo menos dá para ganhar esperança”. 

Na reunião de equipa que fez a 20 de maio notou também que “o ânimo geral dos consultores está bastante melhor do que estava há 15 dias” e que todos já têm leads e perspetivas de negócio. 

Ainda assim, os números estão bastante longe dos que eram registados antes da Covid-19 ter chegado. “Até 10 de março tínhamos mais de 50 negócios por mês, em abril fizemos seis e em maio estamos ao nível de abril”, revela, acreditando que até ao final de maio haja uma ligeira melhoria.

O ponto positivo é que, dos negócios que já tinham iniciado antes da pandemia, “pouca coisa falhou”.  

As reuniões com compradores e visitas também já foram retomados o que, na sua opinião, é bastante importante porque, por muito boas que sejam as visitas virtuais, “o cliente não vai tomar nenhuma decisão se não se puder deslocar ao local”, sobretudo se a habitação for para uso próprio.  

“Quando o imóvel não está acabado até pode funcionar, mas tem de se assegurar que a obra acaba, que não vai falhar o apoio financeiro do banco para ele próprio e para o construtor”, afirma, levantando uma outra questão que pode vir a marcar esta fase: “Neste momento não conseguimos fazer vendas de imóveis em construção. Já é uma questão de saber se daqui a um ano os bancos vão continuar a financiar, porque todos nos lembrámos da última crise, em que que alguns prédios ficaram por acabar”.

Miguel Portela lembra que são poucos os promotores com capitais próprios e considera que a recessão que se adivinha pode condicionar os negócios no setor imobiliário, sobretudo os que dependem de financiamento bancário. 

Em relação às novas regras para evitar o contágio pelo novo coronavírus, não sentiu grandes dificuldades para adaptar o espaço físico da agência: “O nosso escritório está dividido em gabinetes, com salas maiores e outras mais pequenas. As salas destinadas a receber os clientes são as maiores, para manter um distanciamento maior. Não temos muita gente a trabalhar aqui no escritório, só duas ou três de escala. As reuniões terão que ser marcadas com antecedência para que exista uma sala disponível, em função do número de pessoas. Temos desinfetantes, luvas e máscaras para quem se esquecer”.

“Qualquer pessoa que queira vir pode vir, tem espaço para ser recebida”, conclui.  

Objetivos e formação são para manter

Luís Fernandes, broker da Expogroup Remax , uma rede com doze espaços em Portugal, diz que as agências estão a “retomar gradualmente” a atividade presencial, até porque nunca chegaram a parar totalmente. 

Nas últimas semanas surgiram “mais contactos e mais abordagens”, o que mostra que o fim das imposições em termos de confinamento e de deslocações também trouxe boas notícias para o setor imobiliário. 

Agora já mais disponíveis para o contacto presencial, os consultores da rede estão a trabalhar com rotação de horários, cumprindo obviamente todas as normas de distanciamento, higiene e proteção.

As novas regras são também já visíveis na formação interna. Luís Fernandes conta que foi mantido o plano de formação dos novos agentes, se bem que com as necessárias adaptações. “Temos uma sala com capacidade para 35 pessoas, mas o grupo está dividido em dois, de dez e 12 pessoas, todas com máscaras, num espaço que está devidamente higienizado”. 

Os formadores usam viseiras e a formação foi planeada para ter blocos de uma hora, para existirem mais intervalos. Os formandos estão sentados com distâncias de mais de dois metros entre eles e tudo foi pensado para evitar contactos: “As pessoas entram na sala e começam a sentar-se nas mesas junto à parede e só depois nas que estão mais perto do corredor. Foram retiradas algumas mesas, de forma a desencorajar a proximidade entre pessoas que à partida já têm alguma afinidade e poderiam querer estar mais perto”. 

A realização desta formação mostra bem que esta rede de agências não pretende reduzir a sua atividade nos próximos meses.

“Os nossos objetivos para 2020 são para manter”, garante, admitindo que, apesar “do abrandamento em abril, em termos de negócios e transações em curso, as perdas foram pequenas”.

“Entre março e abril houve quebras de 70 a 75 por cento na faturação”, diz, revelando que em maio estarão na ordem dos 50 por cento. 

Luís Fernandes reconhece que, nesta fase inicial, “algumas pessoas estão a retardar a decisão”, mas acredita que este protelamento vai acabar por ser superado: “Estamos a falar de um bem de primeira necessidade. Todos precisamos de uma casa para viver”, salienta.

Admitindo que, devido à atual conjuntura, “talvez o tipo de imóvel ou o valor sofra alteração”, está confiante de que o terceiro e quarto trimestres de 2020 serão muito positivos” e acredita que até ao final de junho se assistirá à retoma do setor. 

Fronteiras fechadas atrasam negócios

Mais a sul, na Algarve Property, em Vilamoura, ainda não há contactos presenciais: “A atividade encontra-se ainda a ser desempenhada em regime de teletrabalho por todos os nossos consultores de venda e de angariação, sendo todo o nosso serviço prestado por via digital quer por email, telefone e/ou vídeo chamadas”, explica o diretor comercial, Ricardo Marcos.

Ainda assim, a agência continua a receber, diariamente, “pedidos de informação por parte de potenciais compradores que continuam ativamente a analisar o mercado e pretendem investir em imobiliário nos próximos meses”.

Ricardo Marcos revela também que, durante as visitas a imóveis, são seguidas todas as orientações da DGS, nomeadamente no que diz respeito a distanciamento social e utilização de máscara. “Pedimos também aos nossos clientes que se desloquem em viatura própria de modo a garantir o distanciamento aquando das deslocações durante as visitas planeadas”, acrescenta, revelando que “todos os clientes se têm mostrado bastante recetivos às novas regras recomendadas, adaptando-se facilmente”.

“A componente mais afetada foi sem dúvida o contacto pessoal, as reuniões presenciais e a partilha de sentimentos e emoções que tanto são importantes no negócio imobiliário”, admite.

Por outro lado, a localização geográfica trouxe dificuldades adicionais: “Sendo os nossos clientes compradores maioritariamente estrangeiros, o facto de ainda termos as fronteiras fechadas e de todos os condicionamentos atuais ao nível de mobilidade, sobretudo a aérea, afetaram bastante o nosso negócio e consequentemente os nossos resultados”.

“Continuamos a fechar negócios, lamentavelmente numa percentagem bastante reduzida face ao que seria expectável quando comparado à nossa realidade pré-Covid-19”, reconhece Ricardo Marcos.

Embora admita que existe ainda bastante incerteza sobre o futuro e sobre a forma como a pandemia vai afetar o setor, acredita que não se pode parar. Um sentimento que é, afinal, bastante comum a todos com quem falámos.
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